ATA DA VIGÉSIMA OITAVA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLA­TIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 11.08.1992.

 


Aos onze dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e noventa e dois reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Vigésima Oitava Sessão Solene da Quarta Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às dezessete horas e vinte e seis minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada a entregar os Títulos Honoríficos de Cidadão Emérito a Irmã Nely de Souza Capuzzo, Senhores Adão José de Souza e Geraldo Daniel Stédile concedidos através dos Projetos de Resolução nºs 29 e 26/90 e 27/91 (Processos nºs 1475, 1276/91 e 1719/91), de autoria dos Vereadores Clóvis Brum, Elói Guimarães e Clóvis Brum, respectivamente. A seguir, o Se­nhor Presidente convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Dilamar Machado, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Irmã Nely de Souza Capuzzo, Homenageada; Compositor Adão José de Souza, o “Formiguinha”, Homenageado; Senhora Dalila de Souza, esposa do Homenageado; Senhor Geraldo Daniel Stédile, Homenageado; Senhor Jorge Augusto Patterson, Cônsul Honorário da Costa Rica; Senhor Jofrey Powel, Cônsul da Inglaterra; Irmão Avelino Madalozzo, Reitor da Pontifícia Universidade Católica e o Vereador Clóvis Brum, Secretário “ad hoc”. Como extensão da Mesa: Senhora Joaquina Stédile, esposa do Ho­menageado Geraldo Daniel Stédile. Em continuidade o Senhor Presidente convidou a todos para ouvirem, de pé, o Hino Nacional. Após, o Senhor Presidente reportou-se acerca do evento e concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Elói Guimarães, proponente e em nome das Bancadas do PDT, PT, PV e PL saudou os presentes e teceu comentários acerca da vida pregressa do seu Homenageado, o compositor Adão José de Souza, conhecido como “Formiguinha”. Disse da facilidade de fazer Versos em torno de tema apresentado, ficando horas cantando, mesmo sem ter passado por uma Universidade. Parabenizou os demais Homenageados e disse que a Sessão Solene era um resgate da Cidade com as pessoas que na sua trajetória realizaram formidáveis e magníficas obras humanas. O Vereador Vicente Dutra, em nome da Bancada do PDS, sintetizou o trabalho desenvolvido por cada um dos Homenageados e cumprimentou os Vereadores proponentes destas homenagens. Disse que a Casa estava homenageando a alma de Porto Alegre representada nas figuras de Formiguinha, Geraldo Stédile e a Irmã Nely. A seguir, o Senhor Presidente conce­deu a palavra ao Vereador Ervino Besson que fez uma saudação pessoal à Irmã Nely. O Vereador Clóvis Brum, proponente e em nome das Bancadas do PMDB, PDT, PT, PV e PTB, falou sobre o trabalho social desenvolvido por Irmã Nely junto às crianças carentes. Falou, também, de Geraldo Stédile que foi Vereador desta Cidade e Rotariano de muitos anos, em obras sociais num somatório de virtudes que o fizeram Cidadão de Porto Alegre. Disse que esta Casa aprovou a homenagem a estas três pessoas que por justiça, virtudes, por dedicação e trabalho fizeram por merecer. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Marco Antonio que prestou homenagem ao Senhor Geraldo Stédile, em nome do Rotary Clube Sudeste e da Associação Cristã de Moços. A seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para assistirem, de pé, a entrega dos Diplomas aos Homenageados pelos Vereadores Clóvis Brum, E1ói Guimarães, proponentes, e Vicente Dutra, respectivamente, a Irmã Nely, ao Formiguinha e a Geraldo Stédile. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Homenageados que agradeceram a homenagem prestada pela Casa. Após, os companheiros de Formiguinha prestaram sua homenagem cantando. Após, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às      dezenove horas e dois minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os    trabalhos foram presididos pelos Vereadores Dilamar Machado e Elói Guimarães e secretariados pelo Vereador Clóvis Brum, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Clóvis Brum, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada , será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário

 

 


O SR. PRESIDENTE (Dilamar Machado): Tenho a honra de, na condição de Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, abrir os trabalhos desta Sessão Solene destinada à entrega do título honorífico de Cidadão Emérito de Porto Alegre, respectivamente, à Irmã Nely de Souza Capuzzo, a Adão José de Souza, o "Formiguinha", e a Geraldo Daniel Stédile. Requerimento, respectivamente do Ver. Clóvis Brum, do Ver. Elói Guimarães, e do Ver. Clóvis Brum.

Antes de anunciar a composição da Mesa, e a primeira manifestação desta Presidência, com relação aos homenageados desta Sessão, convido a todos os presentes para que, em pé, ouçamos o Hino Nacional Brasileiro.

 

(É executado o Hino Nacional Brasileiro.)

 

O SR. PRESIDENTE: Gostaríamos que compusesse conosco a Mesa; saudando igualmente a presença honrosa para esta Casa da Drª Mercedes Rodrigues, cuja história a Cidade conhece, e respeita. E o prezado amigo Avelino Madalozzo, Irmão Avelino, que para mim continua sendo o Irmão Luciano e o Reitor do Ginásio Rosário, gostaria que nos honrasse, representando a PUC, na Mesa dirigente dos trabalhos.

Senhoras, Senhores, a coincidência eu não sei se estou ficando velho mesmo, Mercedes - mas vejam a coincidência gloriosa para mim, como ser humano, estar presidindo uma Sessão de entrega de título a três pessoas com as quais tenho décadas de ligações. Primeiro, a Irmã Nely: quando a Irmã Nely começava a sua luta na Pequena Casa da Criança, na Vila Maria da Conceição, eu começava a minha luta no rádio com o Programa "Vozes da Cidade", e muitas vezes eu e a Irmã Nely nos emocionamos e nos unimos naquele trabalho profundo que ela fazia de restaurar a dignidade da vida de milhares de crianças, de uma das zonas mais pobres de Porto Alegre, mais problemáticas, mais desalentadas e mais desamparadas. E só ela sabe, porque a Irmã Nely tem profunda consciência do que faz, porque seu trabalho e porque as pessoas que a cercaram durante esses quarenta anos de atividades na Pequena Casa da Criança é que foram capazes de recuperar, encaminhar e de literalmente salvar para a vida e para a sociedade centenas e milhares de crianças daquelas famílias pobres que ainda habitam a Vila Maria da Conceição.

A Irmã Nely é um capítulo à parte da vida desta Cidade. Para mim, como Presidente da Câmara, é uma honra muito grande tê-la como homenageada e uma lembrança magnífica do Ver. Clóvis Brum que a homenageia.

Querido companheiro e amigo de lutas, também nos meios de comunicações. É difícil para mim chamá-lo de Adão José de Souza, eu fiquei sabendo hoje que o seu nome era este. Para mim ele é  "Formiguinha", cantor, compositor, repentista, trovador e lutador da nossa música regional, daquilo que há de mais sério e de mais puro e de maior essência da música regional do Rio Grande.

Formiguinha é parceiro e amigo de Gildo de Freitas, filho de músicos, pai de cantor, pai de músicos, um homem que tem uma trajetória dentro da nossa música regional, cujo primeiro disco eu fui meio padrinho, não é Formiguinha? A sua primeira gravação eu fui meio padrinho honorário e tive a honra de receber uma homenagem - é muito engraçado, têm certas homenagens que nos fazem que marcam muito mais profundamente do que às vezes estátuas, medalhas, seja lá o que for. Um gesto, às vezes, por mais simples, de uma pessoa como Formiguinha, mas impregnada de uma honestidade tão granítica, que os anos em que eu viver eu nunca vou esquecer a "milonga em homenagem a Dilamar Machado", uma coisa linda, que veio do fundo da alma dele, acompanhado da grande alma que tinha o Gildo de Freitas. Vejam que todas as coincidências acabam no mesmo lugar: o meu início da vida de radialista. Quando eu conheci a Irmã Nely passei a amar a Irmã Nely como qualquer porto-alegrense ama esta mulher fantástica e singular. Quando conheci o "Formiguinha", passei a amar o "Formiguinha" como um amigo querido, que até hoje tenho no rol dos meus amigos, e em uma das primeiras entrevistas que fiz como radialista, foi com o então Ver. Geraldo Stédile. Para mim, na época, moço vindo do interior, iniciando no rádio, entrevistar o Ver. Stédile era uma coisa complicada. Eu cheguei na Câmara Municipal, ainda no Edifício Montaury, cheio de preocupações, encontrara ali uma pessoa meio inacessível, e me lembro que o primeiro gesto do Stédile foi me oferecer um cafezinho no barzinho da Câmara. Aquilo me marcou tanto que um dia desses ele entrou no meu gabinete e a primeira coisa que eu fiz foi oferecer um cafezinho para Geraldo Stédile, trinta ou quarenta anos depois eu paguei aquele cafezinho. E de lá para cá temos sido amigos fraternos e sempre nos encontramos trocando as melhores considerações. Então, tudo fecha, tudo soma e para mim, presidir uma Sessão dessas é extremamente gratificante e agradável. É uma honra Irmã Nely, "Formiguinha" e, Geraldo Stédile, presidir um Ato em que os três são homenageados com a maior justiça, por iniciativa dos Vereadores Clóvis Brum e Elói Guimarães. Gostaria de registrar igualmente a presença, em Plenário, dos Nobres Vereadores Ervino Besson e Luiz Vicente Dutra, que nos honram participando deste encontro. Iniciando o rol das homenagens, nós vamos solicitar aos companheiros Vereadores que utilizem da palavra para a homenagem. No caso, o Ver. Elói Guimarães obviamente ao seu homenageado, o "Formiguinha", mas por extensão também à Irmã Nely e ao Geraldo Stédile.

O Ver. Elói Guimarães usará da palavra falando em nome das Bancadas do PDT, seu Partido, do PT, do PV e do PL. Com a palavra o Ver. Elói Guimarães.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Meu caro Presidente da Câmara, Ver. Dilamar Machado, querida Irmã Nely de Souza Capuzzo, meu amigo irmão Adão José de Souza, Formiguinha, meu amigo Geraldo Daniel Stédile, querido irmão Avelino Madalozzo, Reitor da PUC, Dona Dalila, esposa do Formigunha, Mercedes Rodrigues, Doutor Luiz Bisoto, Srs. Vereadores, Srs. familiares, amigos, crianças aqui presentes, Vereadores integrantes da Câmara Municipal de Porto Alegre. Eu, inicialmente diria que nós estamos hoje, numa tarde de grande dia quando a Cidade homenageia estas figuras nominadas. Seria, Sr. Presidente, Senhores presentes, Senhoras presentes, demorado se nós tentássemos sintetizar aqui a obra de cada um dos homenageados. Em síntese precisaríamos aqui, talvez, dias e dias falando desta tribuna. Coube a mim conceder, propor, porque quem concede é a Casa o título de Cidadão Emérito ao Formiguinha. Coube ao Eminente Vereador Clóvis Brum propor o título à Irmã Nely e ao Doutor Geraldo Stédile. Eu, inicialmente, diria, começaria pela Irmã Nely. Estamos aqui homenageando uma santa, uma pessoa cuja fecundidade, cuja trajetória, cujo coração, cujo amor ao próximo é infinito. Mas me pedia, também, o Vereador Ervino Besson que transmitisse a minha palavra o seu profundo respeito, o seu carinho e amor que tem à Irmã Nely. Minha cara Mercedes Rodrigues, seria despiciendo falar. A sua obra na Cidade, o seu trabalho, a sua luta, o seu amor infinito pelas crianças pobres da sua Maria da Conceição, o seu trabalho na FEBEM e por aí se vai, essa grande obra que realiza. A Casa não poderia deixar de consignar nos Anais de sua história.

O Doutor Geraldo Stédile, um homem que já integrou a Câmara Municipal de Porto Alegre, um homem que desenvolve uma atividade muito grande nos clubes de serviço, pastor metodista, teólogo, um homem filósofo. Outro dia tive a oportunidade de ainda ler uma obra escrita pelo Doutor Geraldo Stédile, um magnífico trabalho de meditação filosófica. Então, Geraldo, pelo trabalho que realiza pelo Rio Grande receba e recebam as nossas homenagens. Mas eu vou aqui falar do meu homenageado, a quem eu propus o título. Esta figura que vocês estão vendo aí de poncho, o Formiguinha. Eu tive o privilégio de conhecer o Formiguinha desde longa data. O Formiguinha é um homem que cuja atividade e aqui vou dizer para vocês, ele começou como poceiro de pá, homem que faz poço, as velhas cacimbas que se abrem de pá. Este é o Formiguinha. A universidade que ele passou foi a Universidade da Vida. Falando certa feita com o falecido Teixerinha, eu perguntava para ele, porque a opinião do Gildo de Freitas, grande compositor repentista, eu já conhecia de que o Formiguinha era o maior trovador que o Rio Grande já tinha conhecido. E certa feita, falando com o Teixerinha, ele me dizia: o maior trovador do Rio Grande, da história do Rio Grande, do que eu conheço, é exatamente o Formiguinha. Eu tive a oportunidade, raras e ricas oportunidades de, por exemplo, ver o Formiguinha trançando o ferro num comércio de carreira, trovando durante horas e horas a fio. Eu ouvi o Formiguinha cantando três, quatro horas verso em cima da espora, em cima do chapéu, falando do chapéu, falando da espora, falando do mango, falando do cavalo, falando da prenda. Então este é o nosso homenageado, o Formiguinha. Homem que realizou uma obra magnífica, pai de três filhos e adotou mais quatro filhos. Homem absolutamente pobre. Gravou quinze discos, ele, inclusive, depois, vai ofertar aos integrantes da Mesa. Então, eu tenho o Formiguinha na minha memória de jovem e até de guri, a imagem da tua figura, cantando, cantando no rádio, cantando pelo Rio Grande, alegrando os corações. Homem que nunca teve estudo, mas tem uma cabeça, como se diz na linguagem popular, que é um homem que se dermos um tema para ele: "a lâmpada", a "cadeira", o "microfone", ele fica cantando horas e horas e fazendo versos em cima do mote que se lhe der. Então, por isso que digo que a Casa hoje aqui vive uma tarde de grande dia para a Cidade, porque está a homenagear figuras humanas, diria pessoas que na sua trajetória realizaram formidáveis e magníficas obras humanas e a Casa resgata este compromisso por nós que a representamos, portanto meu amigo Formiguinha, receba a nossa saudação, receba aqui o carinho, o forte abraço do seu Almerindo e da Dona Julieta. Receba, portanto, as nossas homenagens pelo que fizeste, pela obra que realizaste nessa tua caminhada, no tranquito, no teu rosilho, lá pelas tantas um raio meio que te descontou de uma asa, mas tu continuas aí, continua aí firme realizando a tua obra de cantor, de trovador.

Então, fica aqui, Sr. Presidente, esta nossa homenagem que representa o resgate da Cidade com estas três figuras que marcaram e marcam o dia-a-dia de Porto Alegre: o Formiguinha, a Irmã Nely e o Dr. Geraldo Stédile.

A nossa homenagem, o nosso respeito e o muito obrigado em nome da Cidade de Porto Alegre. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Vicente Dutra.

 

O SR. VICENTE DUTRA: Exmº Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre Vereador Dilamar Machado; Exmª Srª homenageada Irmã Nely de Souza Capuzzo; Exmº Sr. homenageado, Compositor Adão José de Souza e Senhora Dalila de Souza; Exmº homenageado Geraldo Daniel Stédile. Demais componentes da Mesa e demais presentes; companheiros Rotarianos, especialmente companheiros do Rotary Club Sudeste do qual pertence o nosso homenageado Geraldo Daniel Stédile.

Sobre esta notável figura, já muito conhecida, do Estado do Rio Grande do Sul, o nosso querido Formiguinha, que já muito bem colocou de forma solene e marcante a vida e a obra e o que traduz esta homenagem que a Casa do Povo de Porto Alegre hoje faz a título. Eu acho que foi um momento muito feliz do Ver. Elói Guimarães que é nesta Casa um dos que mais cultua as tradições e pena que, como sempre faz, não declamou seus poemas que tenho certeza abrilhantariam mais ainda o seu brilhante discurso, nesta tarde.

Mas, sobre Geraldo Stédile, figura marcante do cenário desta Cidade, um filósofo, pensador, um homem de ação, um homem polêmico, muitas vezes. Eu tenho algumas, pouquíssimas discordâncias com o Geraldo Stédile, mas reconheço nele uma autoridade de um homem que pesquisa aquilo que pensa e estuda e, mais do que isto, ele apresenta o seu estudo, a sua pesquisa daquela verdade que ele acredita e ele a divulga. Nós podemos discordar, mas temos que reconhecer a garra, a coragem, a determinação de Geraldo Stédile quando na defesa de alguma idéia de algum postulado. É um companheiro Rotariano de escol e ainda sábado estivemos juntos durante algumas horas refletindo, trabalhando em prol de alguns programas de Rotary. E sempre tenho muito respeito pelo trabalho de Geraldo Stédile e esta Casa esta resgatando, como bem  destaca o Ver. Elói Guimarães, este compromisso de eternizar esta homenagem, concedendo o título de Cidadão Emérito por merecer, por ser justo, por ser oportuno. É um homem religioso, como religiosa é a Irmã Nely, é uma figura impar, é uma figura ligada intrinsecamente a Porto Alegre. Quem não conhece a Irmã Nely. Eu até agora a pouco brigava com o Ver. Elói Guimarães porque me roubou a primazia desta homenagem. Tenho quase certeza que conheço a Irmã Nely no mínimo o dobro que conhece o Ver. Elói Guimarães. Mas hoje lendo a exposição de motivos que mandei apanhar no Projeto, entendi o porque da confusão, eu tinha absoluta certeza que a Irmã Nely já havia sido homenageada pela Casa, mas não, ela tinha sido homenageada com o Título de Gaúcha Honorária, entre outros tantos títulos que ela recebeu. Eu me recordo muito bem, eu me recordo perfeitamente que saiu no jornal a fotografia e, eu pensava que era Cidadã de Porto Alegre. Me ganhou, mas foi muito justa a proposta que mereceu de pronto o apoio unânime desta Casa, do Ver. Clóvis Brum ao propor o título de Cidadã Emérita para a Irmã Nely.

Eu fico imaginando Irmã Nely, quantas e quantas famílias à noite, ao fazer as suas orações não recordam, não dirigem uma prece em especial a Senhora. Talvez por isto a Senhora se mantenha ainda com saúde, com a saúde mínima que a Senhora necessita para prosseguir esta luta. É a força espiritual dessas orações, é a força de uma mão invisível que a mantém ainda a frente da pequena Casa da Criança, que é um exemplo.

Lamentavelmente os Governos desse País são insensíveis a obras e experiências do tipo que realiza a Irmã Nely, porque se não, propagariam mais e mais, trariam aqui pessoas de outros lugares para mostrar como se faz um trabalho com amor e com técnica. Porque a Irmã Nely não se conformou em dar-se com amor, foi buscar formação, foi estudar Serviço Social, formou-se. Não precisava, porque ela é assistente social nata. Foi estudar psicologia para entender melhor o seu trabalho e melhor aplicar aquilo que ela guarda dentro de si, que é a dedicação em servir o próximo. Portanto, nesta tarde, Presidente Dilamar Machado, esta Casa resgata realmente e é uma homenagem sui generis, porque, na verdade, nós estamos homenageando a alma de Porto Alegre, os valores espirituais, valores artísticos que estão intimamente ligados a um ser supremo que é Deus. A alma de Porto Alegre está aqui muito bem representada pela figura do "Formiguinha", na figura do Geraldo Stédile e na figura querida e carismática da Irmã Nely. Por isso, sem me alongar, e tenho certeza que o Ver. Clóvis Brum, proponente de duas homenagens, irá tecer brilhantes considerações a respeito dos homenageados, em nome do PDS, que represento neste momento, cumprimento a Casa, cumprimento o povo de Porto Alegre e cumprimento até a mim mesmo, por nesta tarde fria, viver um momento tão quente, de calor humano, quando se homenageia estas três figuras que é o Formiguinha, o Geraldo Stédile e a Irmã Nely. Meus parabéns a Porto Alegre, por contar com uma presença tão querida e carinhosa de vocês. Muito obrigado por tudo o que fizeram. (Palmas.)

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Antes de concedermos a palavra ao nobre Ver. Clóvis Brum, vou conceder rapidamente a palavra ao Ver. Ervino Besson que deseja fazer uma saudação pessoal à Irmã Nely Capuzzo.

 

O SR. ERVINO BESSON: Eu agradeço, sensibilizado ao Presidente desta Casa, Ver. Dilamar Machado, e quero também aqui saudar e cumprimentar a todos os componentes da Mesa, e às três pessoas ilustres que estão sendo homenageados neste dia, que é brilhante, apesar de frio, mas este calor humano que a Cidade recebe, homenageando vocês e tenho a certeza de que a Cidade de Porto Alegre toda, no dia de hoje, está vibrando. Também saudar a Drª Mercedes que se encontra aqui presente entre nós e todas as senhoras e os senhores. Confesso, Irmã Nely, que estou hoje um pouco emocionado, porque eu me lembro, ao longo dos tempos, quase trinta anos, que tive oportunidade, Senhores Vereadores, Ver. Vicente Dutra, de ter a honra e a oportunidade de trabalhar junto a esta extraordinária mulher que se chama Irmã Nely. Aprendemos muito Irmã Nely, aprendi muito trabalhando a seu lado. O seu gesto humano, as suas atitudes com as pessoas, como uma cidadã sempre, sempre voltada e preocupada com as pessoas pobres, aquelas pessoas mais carentes da nossa Cidade de Porto Alegre.

Poderia aqui, Irmã Nely, lembrar muitos fatos,  mas eu quero me lembrar, neste momento, de um deles. Um certo dia, no Secretariado de Ação Social da Arquidiocese de Porto Alegre, onde funcionava o escritório, junto à Igreja Santa Terezinha, que a Senhora disse ia trabalhar na Vila Maria da Conceição. Se não me engano, o falecido Padre Paulo disse: "Irmã, a Senhora tem muita coragem e eu a admiro. A Senhora, como mulher, vai trabalhar numa vila onde muitos policiais têm medo de enfrentar". A Senhora, com a tranqüilidade e o dom que Deus lhe deu disse que iria enfrentar e lá iria dedicar seu trabalho e sua formação.

Foi muito bem colocado aqui pelos Vereadores que me antecederam o seu trabalho marcante. A sua história como pessoa está marcada em muitas páginas de jornais, revistas, não só do Estado, mas até do exterior. Sempre Irmã Nely, a Senhora está acompanhada por esta extraordinária criatura, que é o Xico, que já está de cabelos brancos, sempre ao seu lado, acompanhando seus passos com muita garra e com muita lucidez.

Portanto, Irmã Nely,  peço a Deus que sempre ilumine seus passos, que lhe dê muita saúde, porque muitas pessoas precisam do seu trabalho, muitas famílias até rezam todas as noites para que a senhora tenha sempre uma boa saúde, porque aquele povo mais carente de nossa Cidade precisa, precisa, e como precisa, do seu trabalho e carinho.

Aos demais homenageados fica o nosso abraço e gratidão. Aos senhores e seu familiares bastante paz, bastante saúde; que Deus os proteja por tudo que vocês têm feito para o nosso povo e por nossa Cidade. Tenho certeza de que ainda em muito os Senhores vão colaborar para o engrandecimento de nosso País. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Clóvis Brum.

 

O SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente, Srs. Pastores da Igreja Metodista, meus amigos Wirmar Borba e Sérgio Diestman, respectivamente Presidente e Vice-Presidente da Federação dos Homens da Igreja Metodista do Rio Grande do Sul, rotarianos, meu irmão, meu amigo, a quem o homem público poderia naturalmente se inspirar para realizar o seu trabalho de grandiosidade, de espírito público, de religiosidade, dedicado aos pobres e a intelectualidade, Irmão Avelino Madalozzo. Homenageados desta Casa, compositor, alma do Rio Grande em versos, trovador, a rima e a trova numa extraordinária figura que é o Formiguinha, Adão José de Souza. Busquei lá no coração da minha igreja católica a pessoa que poderia transmitir tudo aquilo que eu penso, que eu sinto, que eu vivo e com quem pude partilhar alguns momentos inesquecíveis, extraordinária mulher que eu poderia plagiar Angel Jara na sua despedida célebre daquela hospedagem e dizer que a Irmã Nely é possuidora de simplicidade e de amor que só os pássaros e Deus possuem. Homem polêmico por natureza, religioso por vocação, homem público por conceito e por virtudes e que se fez merecedor exatamente por sua extraordinária competência e suas virtudes. Vereador, eu diria antes Pastor, Vereador em Caxias e que honrou o Parlamento Municipal dessa Cidade. Dr. Geraldo Stédile. Meus senhores, e minhas senhoras, minha querida e velha amiga de tantas e tantas jornadas Mercedes Rodrigues, digo aos senhores que nesta tarde de entrega com justiça a concessão de três títulos de cidadãos eméritos desta Cidade. Vereador Elói Guimarães, ligado ao tradicionalismo, por quem tenho grande apreço, viu que o Rio Grande que cantava e que canta não estava presente a estas homenagens, e apresentou a Casa um Projeto que teve aprovação unânime, cuja a iniciativa, Ver. Elói Guimarães, dignificou e honrou aqueles que com o seu cantar alegram milhões e milhões de corações. Nós, examinando um currículo que nos foi entregue pelas mãos zelosas de um irmão, e eu me refiro ao Caetano, começamos a saber quem era Geraldo Stédile, porque nós estamos em Porto Alegre há pouco mais de 19 anos e Stédile já era Vereador em Porto Alegre, Stédile já era Vereador em Caxias, Stédile já pastorava a sua igreja metodista lá no Quaraí e em várias cidades do Rio Grande do Sul. Geraldo estava presente no Lyons, no Rotary, na vida pública da Cidade. E não foram os seus longos anos de obras sociais que fez por merecer esta condecoração, mas os Vereadores desta Casa aprovaram este título em função do somatório de virtudes que fazem da pessoa de Geraldo Stédile um Cidadão de Porto Alegre. Foi um somatório de virtudes que teve neste cidadão anônimo de Porto Alegre, realizando muito mais, com mais amor do que muitos cidadãos de Porto Alegre aqui nascidos não realizaram.

É interessante, Irmã Nely, por momentos o Geraldo e a Irmã Nely se identificam, caminham juntos na busca de melhores dias, fundamentalmente, para os mais necessitados. Quando eu vejo um grupo de homens aqui presentes para assistir e homenagear Geraldo Stédile; quando eu vejo dezenas de crianças para homenagear a Irmã Nely, é um retrato maravilhoso das virtudes dos homenageados. Ele que granjeou nesta Cidade a admiração dos porto-alegrenses, dos seus companheiros do Rotary, da sua Igreja e ela, há mais de 40 anos, palmilha o difícil caminho da obra social, obra social esquecida pelos governos sim, realizada com denodo, com coragem, com altivez, com dignidade, com postura e com amor por esta extraordinária mulher.

Irmão Avelino, meu irmão de fé, eu poderia dizer "meu irmão camarada" eu o vejo num dos mais altos postos da Pontifícia Universidade Católica, discutindo os problemas mais prementes e mais sérios da intelectualidade deste Estado. E eu o encontro lá no Mato Sampaio, lá na Vila Pinto, no meio da miséria, da fome e dos esquecidos. É o que se poderia dizer, é o Avelino, aqui, na minha igreja e o saudoso Bispo Isaac Aço, na sua igreja Metodista.

Srs. homenageados, eu permaneci nesta Casa por três mandatos. Nestes três mandatos a inspiração divina, o meu Deus e a minha Virgem Maria me deram forças para que pudesse homenagear homens e mulheres não só da minha Igreja Católica. Mas tive a honra de prestar uma homenagem... pois o meu primeiro Título nesta Casa, foi concedido, Irmã Nely, Irmão Avelino, Geraldo, Formiguinha, ao saudoso Pastor Emérito da Igreja Metodista, Deputado, Vereador, Prefeito-Interventor, extraordinário condutor de almas, Derli de Azevedo Chaves. Esta foi a minha primeira homenagem, levado pelo então Pastor Isaac Aço, em cuja igreja, Irmão Avelino, pude realizar um batizado de um sobrinho meu, isso há mais de 23 anos, foi onde conheci este Pastor. Levado pelo extraordinário trabalho do Presidente da CONIC, pude homenagear o Bispo Pinheiro, também da Igreja Metodista e o Professor, educador daquela Instituição. Aqui, pude homenagear, na minha igreja, duas irmãs. A minha primeira Irmã, a Irmã religiosa que me recebeu nesta Cidade, que deu a mim e a minha família, a Irmã Nely, carinho e muito amor. Eu estou a me dirigir a minha queridíssima Irmã Sônia, do Colégio Santa Inês, foi também minha homenageada. Com ela, ao lado do Senador Pedro Simon, partilhamos muitos anos, lado a lado, no aprendizado das minhas 4 filhas, naquela modelar casa de ensino. Por último, já no final do meu mandato, eu tive a inspiração -repito, graças a Deus- de resgatar a cidadania de uma extraordinária mulher, cidadã de Porto Alegre, pelo trabalho, pela luta, pelo amor, eu me refiro à extraordinária Irmã Nely, Irmã Nely da Maria Degolada, Irmã Nely de muitos cursos realizados para melhor se preparar e enfrentar essas crianças esquecidas pelo Poder Público. Irmã Nely, do Lar da Pequena Casa da Criança e da Casa-Lar. Quando eu me refiro à Casa-Lar, foi o modelo de instituição que a Irmã Nely imprimiu dentro da FEBEM, desmembrando aqueles verdadeiros presídios em pequenas Casas, onde até 10, no máximo 12 crianças, pudessem ter um pai e uma mãe adotivos. Eu acho importante me reportar à Mercedes, mas o meu candidato não é a Mercedes, é o Schirmer, mas eu vou me reportar a essa mulher, que também concorre à prefeita, e deve receber uma grande votação, porque Irmã Nely, foi na gestão da Drª Mercedes Rodrigues, quando Diretora do Setor Jurídico da FEBEM a Drª Maria Valderez, e, ao lado dela, o Dr. Vizotto, meu querido amigo, e eu, ingressamos junto ao Presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, com "habeas corpus", para impedir a levada de crianças da FEBEM para Luxemburgo, para a Alemanha, para a Itália e para outros países da Europa. Obtivemos vitória, crianças que já estavam nos hotéis, aqui em Porto Alegre, com estes casais estrangeiros, nós recolhemos para a FEBEM estas crianças novamente, aí a Irmã Nely implantou as casas-lares. O destino dessas crianças até hoje não se sabe o certo, e foi na gestão da Mercedes é que nós tivemos todo o apoio do setor jurídico da instituição.

Senhores, Senhoras, a Câmara Municipal de Porto Alegre nos deu o apoio de que precisávamos, a votação de que necessitávamos para que resgatássemos a homenagem para que estas três pessoas por justiça, virtudes, dedicação e trabalho fizeram por merecer.

O Formiguinha, como já disse, a voz do Rio Grande em verso; o Geraldo, com o seu trabalho social, com sua cultura e seu passado político e suas virtudes; a Irmã Nely, que continua com as suas crianças, não mais só da Maria da Conceição, mas crianças de outros bairros e que teve a oportunidade de empreender um belo trabalho a frente da FEBEM para atingir outros setores do Estado.

À Irmã Nely, ao Geraldo e ao Formiguinha, a nossa homenagem na certeza de que o que nós estamos fazendo não é mais nada do que o reconhecimento da Cidade de Porto Alegre a esta três figuras, a estas três pessoas que muito contribuíram conosco. Muito obrigado a todos, e, em especial, ao Irmão Avelino que está nos honrando nesta tarde. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa atende ao pedido da ACM, através do seu Secretário-Geral e Presidente da Secretaria da ACM do País, Marco Antônio, para que da tribuna preste homenagem particular ao Cidadão Emérito Geraldo Daniel Stédile.

 

O SR. MARCO ANTÔNIO: Exmº Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Dilamar Machado; Dr. Geraldo Stédile, homenageado, assim como a Irmã Nely; Sr. Adão José de Souza e demais componentes desta Mesa. Srs. Vereadores, Representantes de diversos Partidos. Senhoras e Senhores. Falo aqui em nome de todos os meus companheiros do Rotary Clube Sudeste, na qualidade de Presidente desse clube. Caro companheiro Geraldo, nunca um lema do nosso Rotary foi tão adequado para explicitar em poucas palavras o que tem sido a tua conduta como rotariano e como cidadão. A verdadeira felicidade consiste em ajudar o próximo, efetivamente tem sido assim ao longo da tua vida. Nós que o conhecemos há muito tempo e inclusive como uma liderança  acemista (ACM), sabemos muito bem todo desprendimento e dedicação que sempre empresta a todas as causas a que se envolve. Geraldo Stédile, meu companheiro de Rotary é uma figura ímpar em todos os papéis que desempenha. Os que o conhecem sabem que a personalidade cordial que abriga igualmente um temperamento forte, corajoso e por isso mesmo empreendedor. Poderíamos aqui enumerar diversos feitos de Geraldo mas, acima de tudo, cabe ressaltar o quanto ele tem sido partícipe em todas as atividades que visam o bem comum da comunidade onde está integrado. Nada mais justa, portanto, a homenagem que recebes da Câmara Municipal de Porto Alegre. Efetivamente, Geraldo, és um Cidadão Emérito, porém és um rotariano da melhor cepa que honra a todos nós, homens e cidadãos. Um grande abraço, meu amigo Geraldo. Quero aqui entregar, neste momento, uma placa ao companheiro que sintetiza todo o carinho dos companheiros do Rotary Clube Sudeste e, ao mesmo tempo, passar as suas mãos aquela que é a maior homenagem que um rotariano pode receber, que é a medalha Paul Harris. Está aqui, que fala do nosso companheiro, assinada pelo nosso Presidente Internacional, ao Doutor Geraldo Stédile, se assim o permitir. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE: O Doutor Geraldo Stédile recebe então estas homenagens dos seus companheiros do Rotary Clube. Nós agradecemos a manifestação do Rotary Sudeste através do seu Secretário-Geral que está conosco, do Presidente deste Clube de Serviço, Marco Antônio.

E agora convido o nobre Vereador Clóvis Brum, como proponente, o nobre Vereador Elói Guimarães e se o Brum permite, o nobre Vereador Vicente Dutra para respectivamente entregarem o Diploma de Cidadão Emérito à Irmã Nely, ao Formiguinha e ao rotariano Geraldo Stédile. Por favor, Senhores Vereador, até o nosso Plenário. Eu pediria aos presentes que, em pé, assistíssemos a este momento solene e formal. (Palmas.)

 

(É feita a entrega dos diplomas.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Senhoras e Senhores, por favor sentem. É hora de ouvirmos a palavra dos homenageados. Como esta Casa, embora seja uma Casa machista por sua representatividade, nós somos 33 Vereadores, apenas uma Vereadora e 32 Vereadores. E, por uma questão cavalheiresca, concedemos, inicialmente, a palavra à dama, nossa querida Irmã Nely. Tem a palavra já como Cidadã Emérita de Porto Alegre.

 

A SRA. IRMÃ NELY DE SOUZA CAPUZZO: Sr. Presidente da Mesa, Doutor Dilamar Machado e demais homenageados aqui presentes, meus queridos amigos, queridas crianças. É costume em ocasiões como esta o homenageado ler o discurso feito por sua assessoria. Mas, eu vou quebrar o protocolo, não vou fazer discurso, vou deixar falar o meu coração. Vou dividir com vocês alguns fatos ligados a minha vinda a esta Cidade que agora me honra com o título de Cidadã Emérita que muito me gratifica. Não fui eu que escolhi viver em Porto Alegre. Eu vim para cá a mandado de meus superiores, inclusive, de uma maneira bastante sofrida. Naquela época, as nomeações eram feitas de uma maneira até desumana. O Monsenhor reunia as irmãs numa sala e aí ia lendo: "Irmã fulana... tal lugar... No momento em que eu ouvi Irmã Maria Santa Terezinha, Porto Alegre, o mundo desabou na minha cabeça, porque para mim Porto Alegre era o fim do mundo, porque eu detestava o frio, tinha alergia a frio, e ainda tinha promessas de meus superiores de que voltaria para minha terra, mas quando a gente entra para o convento a gente renuncia ao maior bem que o homem possui que é a liberdade, e eu tinha feito votos de obediência, tive que vir para cá, no meio de grande sofrimento.  Se eu sonhasse o que me esperava, quanto sofrimento teria sido evitado. No dia em que cheguei em Porto Alegre, dia 17 de março de 1951, estava chovendo muito, o aeroporto era pequeno as pessoas se acotovelavam, se apinhavam. Nós tínhamos feito uma viagem horrível, o avião jogou demais, a gente chegou meio zonza eu estranhei o linguajar daquele povo no aeroporto, então disse para a Irmã que me acompanhava; Irmã, eu não posso morar nesta terra, eu não entendo nada do que os gaúchos falam. Aí, a Irmã me disse: espera, eles não são gaúchos, são argentinos ou uruguaios que estão aqui. Quer dizer, a vã esperança de que me mandassem de volta, porque eu não entendia o que os gaúchos falavam. Mas o carinho com que eu fui recebida pelas minhas co-irmãs, aos poucos foi me ajudando a me adaptar a uma realidade totalmente nova para mim. E a superiora me mandou dar aula no Instituto de Educação. No Instituto de Educação o meu trabalho logo começou a chamar a atenção das alunas, porque em vez de eu falar, mandar decorar catecismo em vez de eu ficar pregando mandamentos, eu conversava com essas adolescentes aqueles problemas da vida delas, sobre o amor, o casamento, o namoro, e isto foi chamando a atenção dessas meninas, que mais tarde foram minhas grandes auxiliares no trabalho da vila. Um dia a Irmã ecônoma contou que ia comprar laranjas nas docas das frutas e havia muitas crianças perambulando pelo cais, maltrapilhas, famintas e ela ficava com pena daquelas crianças. Então eu pedi licença à Madre Superior para ir a este lugar. Quando eu fui pedir para o Vigário, ele me deu um corridão: "mas é impossível a Senhora entrar nesse lugar, até a polícia tem que se armar." Eu falei, olha eu vou tentar. E comecei, foi o meu primeiro contato com a miséria. Então eu visitava aquelas famílias - eram umas cem famílias - procurava ajudar com medicamentos. Procurei o pessoal da Igreja do Rosário para prender estas crianças. Um dia, estávamos brincando, ali na beira do cais, quando a água do Guaíba começou a invadir tudo. E era aquela correria, as pessoas tentando salvar o pouco que possuíam. E na mesma hora encostavam os caminhões da Brigada, com os brigadianos dizendo: "Se não saírem por bem, tem que sair por mal." E foram levando as pessoas como gado. Na saída, uma menininha pegou a minha mão e disse: "Irmã, a senhora não vai me abandonar! Nós vamos lá para o Morro da Maria Degolada." Aí eu falei: "Tá bom, eu vou junto." Demorei três meses para localizar estas pessoas. Não havia como localizar. Ninguém sabia onde era. Não tinha calçamento, era um morro quase inacessível. Quando eu estava quase desistindo, eu encontrei uma das crianças do meu catecismo que me levou até a vila. E, para surpresa minha, chegando lá, eu encontrei além daquelas cem famílias, mais mil famílias! A Prefeitura tinha removido para lá vários núcleos de casebres, os mais antigos - esta Casa deve se lembrar - e formou a grande Vila Maria da Conceição. E aí eu comecei a visitar as famílias e em 1953 surgiu o carro-capela. Então o carro estacionava ali no meio da vila e o pessoal se reunia e aquelas meninas do Instituto de Educação e os rapazes da Ação Católica ensinavam, para as pessoas tudo o que elas quisessem aprender. Mas logo eu percebi que era impossível eu falar de Deus a pessoas de barriga vazia. Aí comecei a me preocupar com problemas de saúde, de educação, saneamento básico, desemprego. E reuni os moradores para estudar os problemas da vila, com eles. Não era uma coisa imposta, tinha que partir deles. Até que os moradores vendo tanta dedicação de todo este grupo que ia nos fins-de-semana, para o morro, propuseram "Nós vamos fazer uma maloquinha para a Senhora dar aula". E aí trabalhando aos sábados, domingos, dias santos e feriados, crianças, jovens, senhoras, ergueram a pequena Casa da Criança, que não é uma obra assistencialista. Nós se algumas vezes precisamos da assistência social, só em caso de extrema necessidade. E é uma obra que deu certo, porque uniu a iniciativa privada, o auxílio do poder público e o auxílio dos moradores da vila. Se um desses segmentos não apoiasse, a obra não teria sentido. Então, nada fiz sozinha, muitas pessoas já passaram por aquela casa, muitas pessoas já ajudaram. Aproveito a oportunidade para agradecê-las e com elas dividir essa homenagem, destacando o Xico, que há 40 anos me acompanha, no dia-a-dia. (Palmas.)

Assim, na sua pessoa presto a homenagem a todos aqueles que já trabalharam e ainda trabalham. Ele já poderia estar gozando uma merecida aposentadoria, mas continua com seu trabalho e esforço para o bem dessas crianças. Agradeço aos governos federal, estadual e municipal pelos auxílios à Instituição. Agradeço a esta Casa pelo título, que muito me honra, agradecendo principalmente ao Dr. Clóvis Brum. Não fiz nada sozinha, por isso essa homenagem é para todos os moradores da vila, muitos presentes. A homenagem é para todos nós, não é só para a Irmã Nely; eu sou apenas a porta-voz; sou apenas a voz que fala em nome dessas crianças.

Finalizando, lembro as palavras de Cristo no Evangelho que diz: quem deixar, pai, mãe, bens, a sua terra, por amor de meu nome, terá cem por um nesta vida e a vida eterna no outro. Hoje sinto que estou recebendo cem por um nesta vida. Agora, só falta aguardar a outra parte, que é a vida eterna. Meu carinho a todos vocês e muito obrigada. (Palmas.)

(Não revisto pela oradora.)

 

(A homenageada é cumprimentada pela Mesa.)

 

O SR. PRESIDENTE: Tenho a honra de conceder a palavra ao Cidadão Emérito de Porto Alegre, Dr. Geraldo Daniel Stédile.

 

O SR. GERALDO DANIEL STÉDILE: Meu querido Presidente, Dilamar Machado; Irmã Nely; Irmão Formiguinha; meus queridos Vereadores; meus amigos, minhas senhoras; meus irmãos; meus companheiros.

Permitam-me, primeiro, agradecer, do fundo da minha lama, o gesto extraordinário de Clóvis Brum. Eu nunca esperava isto, não sonhava com isto. Fui visitar o Clóvis Brum e a sua família, fui levar umas flores para a Drª Eulália, esposa do Clóvis Brum. E saí com a impressão das melhores desta vida. E fiquei pensando que, na vida humana, há pessoas que na proporção que você se aproxima delas, elas vão diminuindo. E algumas até se apagam, mas há outras pessoas, como é o caso de Clóvis Brum, em que na proporção que você se aproxima delas ela vai crescendo indefinidamente. Minha gratidão mais profunda a Clóvis Brum e a Drª Eulália. Muito obrigado Elói Guimarães pela tua palavra. Muito obrigado Besson pela tua palavra. Não posso deixar de agradecer profundamente aos rotarianos que estão aqui, a manifestação que recebi, o Paul Harris que recebi, muito além do que eu mereço ou do que eu esperava. Não me considero credor de nada, eu até devo muito a Porto Alegre, pois eu cheguei aqui praticamente desconhecido com a vida mais ou menos em frangalhos e fui um dos Vereadores mais votados estando aqui a menos de um ano. Como eu não posso dever à Cidade, este gesto, esta recepção, esta magnanimidade. Algumas obras nós realizamos aqui, algo nós fizemos, mas eu posso dizer para vocês que eu me sinto um grande devedor à minha terra. Eu que acho que a gratidão é uma das virtudes que mais ornam o caráter humano, uma das virtudes mais belas desta vida, o sentimento de gratidão, eu gostaria de dizer que eu tenho uma profunda gratidão, a começar pelo meu pai e pela minha mãe que me botaram a trabalhar com quatro anos, e continuo trabalhando e não vou parar; que me educaram, me instruíram e que me deram a chance. A minha gratidão à Igreja Metodista, foi graças a ela que eu pude chegar no IPA, estudar e trabalhar. Naquela época não se dava nada de graça, tinha que retribuir lavando prato, cortando lenha para poder estudar. Formei-me com roupa emprestada, mesmo na faculdade onde terminei o curso. Portanto, eu venho estudando, lutando, tenho trabalhado e chego aqui, nesse momento de profunda comoção para mim, quando a Câmara de Porto Alegre, por unanimidade, me dá esse título, para dizer que eu trago apenas uma coisa, a consciência tranqüila de ter feito o melhor que eu posso e de lamentar de não poder fazer muito mais de tudo o que eu gostaria de fazer. Quero aproveitar para usar, ou então me perfilar, ou então acompanhar, ou então viver o pensamento do maior cérebro que pisou na terra até hoje, Albert Einstein é ele, não sou eu, ele que não é qualquer um, disse: "Eu penso todos os dias que a minha vida exterior e interior repousa sobre o trabalho dos homens do presente e de muitos que já não existem mais." Que palavras extraordinárias, que coração este Einstein possuía. Penso todos os dias na dívida que eu tenho para com os meus semelhantes e eu faço minhas essas palavras, meus irmãos, meus amigos, meus companheiros, e ele conclui o seu pensamento dizendo portanto, eu devo esforçar-me ao máximo para retribuir na mesma medida tudo que recebi e continuo recebendo, se algo fizemos por Porto Alegre, se algo fizemos para nossa gente é como ideal, é com objetivo de retribuir tudo aquilo que temos recebido diuturnamente. Minha gente, eu continuarei sonhando com o futuro da minha Pátria, eu continuarei sonhando com a grandeza da minha Pátria e eu tenho certeza que está na idéia, as idéias e novas idéias, a redenção do nosso Brasil, do nosso mundo, há de ser no momento em que nós acordamos para que a grandeza de uma Pátria depende da grandeza dos seus cidadãos, que a grandeza do amanhã será construída e elaborada hoje, que na proporção que tivermos sementes de gente grande, de gente de valor, de lares bem formados, de lares com ideal, de pais responsáveis, de mães responsáveis que tenham a ventura, o prazer e a responsabilidade de, ao botar um filho no mundo, fazê-lo homem, pôr gente no mundo com saúde, com alegria, com felicidade, com chance de viver, o dia em que lançarmos raízes assim veremos os brasileiros surgindo e voando com asas de fogo para a grandeza da nossa Pátria. Minha gente, é com gente que se faz uma Pátria, uma Nação, é isso que eu penso e nesse momento meus queridos irmãos, amigos e companheiros, minhas distintas damas, eu gostaria até de pedir perdão se algum mal eu fiz na vida, se algum mal eu cometi contra quem quer que seja, pedir perdão pelo pouco que fiz, pedir perdão pelo muito que tem para fazer e eu não posso fazer sozinho e dizer a vocês, pensando naquelas palavras de Confúcio que eu gosto muito: "É preferível acender um toco de vela do que esbravejar contra as trevas." Eu gostaria, já no crepúsculo da existência, de ser uma fagulha. Uma fagulha daquela seta que há pouco foi lançada em Barcelona para acender a tocha olímpica, que fosse apenas uma fagulha para acender a tocha de Porto Alegre, do meu Estado, do nosso País, onde não haverá derrotados, onde seremos todos vencedores, a grande olimpíada da vida e acima de tudo, minha gente, que aquela oração, que nós todos repetimos, que nós constantemente repetimos: venha a nós o teu reino, amanhã seja escrita em forma de luz e de fogo no horizonte da nossa Pátria, porque o reino de Deus veio a este mundo. Vamos trabalhar, vamos colaborar com este diálogo.

Meu querido Presidente, meus amáveis ouvintes, eu gostaria nesta hora de beijar a todos os porto-alegrenses e dizer-lhes muito obrigado, empenhar o meu interesse, o meu desejo, de concluir a minha vida como uma lâmpada iluminando o caminho de alguma pessoa extraviada. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Elói Guimarães): Honra-me continuar presidindo esta Sessão Solene, tendo em vista que o Presidente teve um compromisso e precisou se retirar e, a seguir, conforme o protocolo a palavra será dada ao Formiguinha. Porém, como ele substabeleceu que seus Companheiros, inclusive o filho, falem por ele, prestando uma homenagem cantando: o Moreira, o Jorge, o Joãozinho, o Paulinho e o Daniel.

 

(O filho faz a homenagem ao pai  - Formiguinha - e os cantores fazem a sua apresentação.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos agradecer a presença de todos, dos homenageados. Encerramos a presente Sessão Solene.

 

(Levanta-se a Sessão às 19h21min.)

 

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